2021/06/06: já revíamos os critérios da pandemia, no?

Paulo Querido
5 min readJun 6, 2021

Hoje proponho que pensemos na revisão dos critérios para as medidas de combate à pandemia. Também faço notar o nosso imenso sucesso nesse combate, sucesso que ficará para a História.

Vamos ser francos: os limites para estabelecer as medidas para a pandemia deviam ser revistos. Nesta altura, toda a informação disponível aponta para os limites serem desajustados da atual fase do vírus. Foram estabelecidos em função de um quadro em que uma percentagem significativa dos novos infectados acabava nos hospitais e dentro desses uma parte significativa acabava por necessitar de cuidados intensivos. Ora, na fase atual do vírus a percentagem de casos bicudos é menor e desses os que acabam mas mãos dos intensivistas são percentualmente menos.

As razões desta modificação do perfil pandémico são conhecidas. E têm um fator comum: não há regresso delas. Correndo o risco de parecer insensível e cruel: na larga escala, quem tinha de morrer de covid-19 já morreu. Os mais velhos e com menor resistência aos efeitos deste vírus mudaram quase completamente de estatuto: a menor parte morreu, a maior parte ganhou anti-corpos ou porque ultrapassou a doença, ou porque foi vacinada.

Eu compreendo as duas razões para não rever imediatamente os limites. Uma é a razão da cautela científica, ou do desconhecido que resta: o medo das mutações e novas estirpes. Na minha opinião, está sobrevalorizada face a outras razões para rever, a sanidade mental das populações, que também é um fator de saúde pública e os cientistas têm-no justamente salientado, e as necessidades da atividade económica.

A outra razão é o medo de errar por parte dos políticos. António Costa já errou várias vezes, como todos os outros líderes. Boris Johnson cometeu um grande erro na semana passada: a decisão de retirar Portugal da “lista verde”. Não procures justificações conspirativas, favores a outros países, etc: foi apenas o conservadorismo, o play by the book, inflexível.

O sensato seria rever imediatamente os critérios e a sua matriz, alargando-a. Ou introduzir outro fator, que talvez fosse mais simples: ajustar todos os critérios em função do seu impacto no serviço de saúde. Porque demos as voltas que quisermos dar, esse impacto é tudo o que o vírus tem.

Já o tenho referido e vou mencioná-lo uma vez mais: quando, no futuro mais ou menos breve, nos referirmos à pandemia Covid-19, o que dela ficará é a do tremendo sucesso que foi a resposta da espécie humana. Sim, eu sei que os nossos antepassados não tiveram o arsenal de soluções tecnológicas, recursos e sofisticação logística que nos caracteriza no século XXI, mas até isso, ou até por causa disso.

A Ana e eu já recebemos os SMS para a segunda dose que concluirá o presente ciclo de vacinação. Se no dia 6 de junho de 2020 me dissesses que daí por um ano, em junho de 2021, ela e eu estávamos vacinados contra a Covid-19, eu não teria acreditado.

Terias tu acreditado?

Isto leva-me à figura de Gouveia e Melo. Ou melhor: leva-me ao equívoco da nomeação de Francisco Ramos para coordenador do plano de vacinação. Sem querer tirar nem um grama de valor ao vice-Almirante, pelo contrário, e digo-te desde já que espero que Marcelo lhe dê a mais significativa medalha, o contraste com o antecessor jogou a seu favor.

Francisco Ramos é um político típico do bloco central em geral e do PS em particular. Um perfil de grande utilidade para determinadas tarefas que envolvam grupos de interesses internos, do partido, ou clientelares, sempre solícito, sempre disposto a encontrar o mecanismo certo para justificar a coisa errada. Hoje neste posto, amanhã naquele cargo.

Gouveia e Melo apareceu como a antítese. O militar em comissão de serviço. A missão é tudo — não deve nada a clientes nem a interesses, tem o seu lugar ao qual regressará uma vez cumprida a missão.

Para esta tarefa em particular um carreirista da política seria sempre a escolha errada. As decisões seriam naturalmente as decisões equívocas.

Ah e tal, a comunicação social sempre foi assim (avessa à ciência, isto a propósito do antigo jornalista e editor da SIC José Gomes Ferreira ter escrito um livro delirante e aberrante que a sua estação tem promovido como se fosse sério), dizem-me no Facebook.

Não, não foi. Acompanho imprensa há 55 anos — é fácil situar porque estou à beira dos 61 e basicamente aprendi a ler nas páginas de O Século e, dentro deste, nas colunas sobre tecnologia e ciência, em especial num suplemento que se a memória não me falha era semanal, ao sábado.

Lembro-me da capa da Vida Mundial de julho de 1969 mas fui buscá-la aos arquivos da Internet para ti:

Ao longo do meio século que levo de relação com os jornais e a comunicação social, 15 como mero leitor e 35 como jornalista e leitor, não me recordo de um período em que a ciência tenha sido tão destratada como é de há uns cinco ou seis anos para cá, talvez um pouco mais, mas não andava atento à regressão.

O que sucedeu na maior parte desse tempo foi um certo fascínio, um respeito no mínimo, pela ciência, pelos cientistas, pelos seus métodos. Nem sempre compreendidos e bem noticiados? Nem sempre: o jornalista era, e é, um produtor de generalidades e por norma tem dificuldades com o rigor, a precisão e a medição quantitativa. Mas não discutia nm minimizava.

Hoje a norma é o desprezo e o destratamento. Portanto, não: a Comunicação Social nem sempre foi assim. O atavismo que constatamos com JGF e outros é um fenómeno que devia preocupar as pessoas da Imprensa.

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